quinta-feira, 13 de junho de 2013

Pensamento solto da quinta com Karl Lagerfeld

Hoje o momento de reflexão não virá com uma simples imagem e um pequeno texto. Resolvi compartilhar com vocês uma bela entrevista de uma das pessoas mais geniais que a moda já viu neste planeta. Um dos senhores mais copiados em todo o mundo- KARL LANGERFELD ( Diretor criativo da Chanel desde 1982), que fala sobre a necessidade de se reinventar,o que é moda, o que é fashion. Confira a seguir a entrevista realizada em Soho em NY:




Você é famoso por sua capacidade de se reinventar sempre.

Karl Lagerfeld - É preciso. E não tinha nenhuma relação com o Brasil. Quando surgiu o convite, achei que seria interessante fazer algo em parceria com os brasileiros.


Os brasileiros não têm tradição e projeção mundial na moda.

Karl Lagerfeld - Vocês estão fazendo bem. Têm que lutar com criatividade, inventando coisas novas. 


Seu nome está ligado ao luxo. Mas sua marca, Karl Lagerfeld, unificou a linha cara e a popular para criar um meio termo. Não teme se associar ao popular? 

Karl Lagerfeld - Medo nenhum. Gosto da ideia de criar ou o “mais caro” ou o “menos caro”, mas jamais o “barato”. Pessoas são baratas, mas a moda tem que ser acessível. Sou muito bom na alta costura, mas isso não significa que não possa fazer o oposto. 


O caro é melhor e mais fashion?

Karl Lagerfeld - Não. Pelo contrário. A noção de que para estar na moda é preciso comprar coisas caras é antiga. O mesmo com design. Há móveis bons a preços populares.


A ideia do que é moda mudou?

Karl Lagerfeld - Moda hoje é completamente diferente do que era há dez anos. O mundo mudou. É bom. Um país que se apega demais ao passado não tem futuro.


Você foi o primeiro a criar para a H&M e causou revolução. Isso mudou sua forma de fazer moda? 

Karl Lagerfeld - Completamente. Sempre quis isso para a minha própria marca (Karl Lagerfeld). Se quisesse ser como Fendi ou Chanel, teria de gastar bilhões. Sempre quis que minhas criações fossem usadas pelo máximo de pessoas possível. Finalmente consegui.


Mas em geral estilistas querem o contrário, ter seu nome associado ao raro e exclusivo.

Karl Lagerfeld - Sim. Mas um estilista que faz coleções populares ainda é um estilista. É o mesmo ofício. Não é porque é mais popular que tem de ser mal feito, sem graça ou feio. Esta ideia é ultrapassada.


No Brasil, ainda há a ideia de que o fashion é caro.

Karl Lagerfeld - É passado. Não há razão para se gastar fortunas ou se vestir mal se você não tem muito dinheiro. É preciso que haja opções.


Você tem o mesmo prazer em criar para a Chanel, Fendi, sua própria marca e outras marcas mais populares?

Karl Lagerfeld - Nunca comparo. Gosto de tudo. Adoro criar o luxo, mas também adoro criar produtos acessíveis. É estimulante e me faz feliz poder criar para diferentes públicos. Gosto de liberdade. Poderia ter ficado muito isolado se ficasse restrito ao mercado de luxo. Mas me renovo. É o único jeito de sobreviver. A mente está sempre atualizada. É preciso ser oportunista. E não há nada de mal nisso.


Moda é arte ou artesanato?

Karl Lagerfeld - É mudança, sobre o que as pessoas usam e sobre o que expressa a alma do momento. Moda é artesanato. Ainda que seja muito importante, não é arte. E admiro as pessoas que têm paciência para costurar. Eu não tenho. Para mim é fácil ter ideias, mas alguém tem de executá-las. Alguns vestidos da alta costura levam até três mil horas para serem feitos. Já eu os imagino, desenho... É fácil. Mas o trabalho que está por trás chega a me assustar quando penso nele.


Você já comentou que, por ter crescido em uma cidade portuária (em Hamburgo, na Alemanha), sua mãe dizia que ali era a porta do mundo. 

Karl Lagerfeld - Sim. E segui seu conselho. Quando comecei na Chanel, diziam: “Não toque nisso. Está morto”. Todos vinham tentando reviver a marca até então e não haviam conseguido. O que mantém hoje a Chanel é meu trabalho. Não há receita. Escuto minha voz interior. E isso é tudo.


Você sabe costurar? 

Karl Lagerfeld - Sim, mas não costuro mais. Ainda assim, entendo muito. Posso explicar qualquer problema técnico que um vestido tenha. É importante. Para que um designer se considere alguém sério, deve saber de costura. De outra forma, como é possível saber o está errado e encontrar uma solução. Sou muito bom em encontrar soluções. 


Isso é importante, nos dias de hoje, em que a moda é comandada por grandes corporações.

Karl Lagerfeld - Exatamente. Sou a pessoa certa para o trabalho que faço. Trabalho duro e não crio problemas. 


Como vê esta nova era?

Karl Lagerfeld - É uma nova forma de se fazer e consumir o fashion. E a moda se modifica rápido. Não temos o privilégio de querer que o tempo se adapte aos nossos gostos. As pessoas têm de se adaptar. Caso contrário, seremos esquecidos. 


O que é elegância para você?

Karl Lagerfeld - A noção de elegância tem de ser reinventada. Os antigos standards não são mais válidos. Hoje, elegância é se sentir bem com o que você está vestindo. Se o que você veste tem a ver com você, seu estilo e seu espírito, perfeito. Não é se vestir para ser aceito por um grupo. Ninguém liga mais para isso. Todos os standards são de outra era. A elegância não desapareceu. Só tomou outro aspecto.


Neste fim de semana, ocorreu mais um protesto contra a união gay em Paris. Qual sua opinião? 

Karl Lagerfeld - A sociedade moderna é assim e temos de aceitar isso. Não podemos viver com os conceitos de outra era. Casais gays, com ou sem filhos, têm de ter os mesmos direitos civis que os outros. O estado tem de ser laico. Se quiserem se casar na igreja católica, protestante, na mesquita, na sinagoga, aí é outra história. Mas legalmente eles têm de ser protegidos. É muito egoísta da parte dos casais que se dizem normais não pensar nos direitos dos outros. Isso não é muito cristão, aliás.

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